Aquarela
Artista de Rio Grande expõe em museu italiano
Rami está em período acadêmico na Calábria e tem duas obras em mostra no Museo dei Brettii e Degli Enotri
Foto: Arquivo Pessoal - DP - O mar Mediterrâneo foi a paisagem escolhida por Rami para apresentar o seu trabalho no sul italiano, em exposição que marca o início da Primavera Mediterrânea na Calábria
No bico da “bota” que foi o berço do renascentismo, o olhar de uma artista do sul do sul do Brasil conquistou espaço no Museo dei Brettii e Degli Enotri, cidade de Cosenza, na província mais meridional da Itália continental, a Calabria. Lá estão expostas, desde o fim de março e permanecendo até o fim do verão europeu (inverno brasileiro), duas aquarelas de Ramile Leandro, natural de Rio Grande, selecionadas em um edital local.
Rami, como é conhecida, está no sul da Itália desde o começo do ano, quando foi aprovada em um programa de mobilidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde cursa arquitetura. É a segunda graduação da aquarelista, formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg).
Anualmente são selecionados artistas locais para exposições no Museo dei Brettii e Degli Enotri, uma importante referência turística e cultural da região mediterrânea. Rami participou do edital para a Mostra Locus Loci, que abre a programação calabresa da Primavera Mediterrânea, e estendeu-se a estrangeiros.
Para esta exposição, solicitou-se o envio de duas obras e a comprovação de atuação profissional da arte. Há poucos meses neste que é o seu retorno à Itália, onde morou por seis anos entre pós-graduação e trabalho em curadoria artística, Rami produziu duas aquarelas e um poema, com inspiração no mar Mediterrâneo, que surgiram em meio a um desencontro.
Aconteceu logo que aterrissou na Calábria, no aeroporto de Cosenza, de onde dirigia-se à cidade de Morano Calabro. Rami perdeu as malas na chegada, e quando retornou a Cosenza para recuperá-las, quatro dias, depois, pegou um ônibus errado que demorou duas horas e fez uma grande volta pela costa litorânea.
“Esse ‘erro’ e esse tempo dentro do ônibus me inspiraram, ao ver o mar de cima das montanhas, a pintar. No ônibus escrevi uma poesia, sobre a cor do mar e as casas abandonadas, lindas apesar de em ruínas, perto do azul forte que se misturava com verde esmeralda do mar”, conta Rami.
A artista considera este um momento importante na carreira como aquarelista, cuja técnica ela se aprofundou e se tornou o catálogo profissional a partir de 2020, quando começou a vender as obras em um ateliê em Pelotas, on-line e no apartamento em que morava, e posteriormente na Praia do Cassino.
Do Cassino veio a inspiração do mar em suas obras, e da união da formação acadêmica em artes visuais e arquitetura veio o olhar sobre a memória e o patrimônio. “Consiste em investigar a cidade pelo olhar de quem a habita. Sempre aquarelei casas e lugares através de relatos narrados pela memória individual e coletiva de quem as habita ou habitou. Eu procuro entender a relação afetiva da pessoa com o lugar. Para cada casa de infância escrevo um texto, já foram mais de 100 e um dia pretendo escrever um livro com todas”, revela Rami.
Na Europa, a aquarelista já teve o reconhecimento na Trienal de Istambul, em 2014, em sua primeira passagem pelo velho continente, período marcado pelos trabalhos produzidos em Florença, sob a inspiração do cenário da Piazzale Michelangelo.
Já no mês que vem, Rami abrirá o ateliê de aquarelas em Cosenza, e por meio de contatos na atual mostra no museu da cidade, pretende firmar uma parceria para dar aulas e comercializar as obras próprias. Parte do acervo da artista pode ser conferido na sua página no Instagram @rami_aquarelas.
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